08/03/16

Permiti-me a chorar...



Durante anos a fio, não me permiti chorar. Fechei a dor a sete chaves, e coloquei-lhe muitos pesos em cima. 

Um dia, esqueci-me daquela dor... julgava-me feliz, mas havia em mim um vazio profundo, uma ausência, que não sabia explicar... quase "enlouqueci"! 

As perdas não se esquecem, as dores não se curam e as feridas devem ser desinfectadas!

A certa altura, comecei a tirar pesos de cima daquela dor, e, conforme eu ia tirando, continuava sem sentir... como quando as feridas infectam e apodrecem a carne. 

Alguém, olhou na mesma direcção que eu, e, reparou na extensão daquela ferida... colocou-se ao meu lado, arregaçou as mangas e começou a ajudar-me a remover a carne putrefacta... quando chegámos à carne saudável, sangrou... foi uma dor indescritívelmente  forte, tão forte, que me dobrou. 

Deixei que as lágrimas corressem, e, que assim limassem as arestas tão pontiagudas da perda, da ausência, da saudade e da injustiça! 

Ontem, permiti-me a chorar de novo... os velhos hábitos persistem em domar as lágrimas, mas eu continuo a lutar, para que elas corram em liberdade... é um direito meu!  

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